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Pesquisa de professor da Unioeste aborda casos de tuberculose em Foz do Iguaçu

Em pesquisa, o professor da Unioeste, Marcos Arcoverde, traça relação sobre os óbitos por tuberculose e determinantes sociais, em Foz do Iguaçu; A tese é resultado do doutorado interinstitucional, entre Unioeste, USP e Itaipu Binacional
4 de Dezembro de 2018 às 00:00

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a tuberculose, principal doença infecciosa do mundo, mata diariamente 5 mil pessoas no mundo. Embora pouco se escute sobre morte por tuberculose no Brasil, esta realidade está mais próxima do que se imagina. Dados do Ministério da Saúde, divulgados em 2016, apontam que o Brasil ocupa a 18ª posição em notificações de tuberculose, representando 0,9% dos casos estimados no mundo e 33% dos estimados para as Américas. No entanto, quando nos referimos ao Oeste do Paraná, a situação se agrava.

O enfermeiro e professor da Unioeste, campus Foz do Iguaçu, Marcos Arcoverde, através de pesquisa desenvolvida para sua tese de doutorado, concluiu que o município de Foz do Iguaçu, é ponto preocupante diante do trabalho de combate à tuberculose no país. Analisando dados de mortalidade e a relação com determinantes sociais, Marcos ressalta que o município situado no Oeste do Paraná apresenta dados preocupantes tanto em casos de tuberculose, como em casos de tuberculose associada ao HIV.

A tese de Marcos Arcoverde é resultado do doutorado interinstitucional (Dinter), entre Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), USP (Universidade de São Paulo) e Itaipu Binacional. Com o tema "Mortalidade por tuberculose e tuberculose-HIV, sua relação espacial com os determinantes sociais e tendência temporal: Uma abordagem multimétodo em Foz do Iguaçu, PR", a tese foi a primeira a ser defendida pelo Dinter.

Com a proposta de formar 31 doutores, o Dinter foi destinado a docentes da Unioeste e profissionais da região. As atividades começaram em outubro de 2015. "A ideia é justamente formar um grupo de profissionais pesquisadores que possam desenvolver pesquisa, na sua área de atuação, na região onde esteja instalado", comentou Marcos.

"Em resumo, eu trabalhei sobre a mortalidade de tuberculose e tuberculose associada ao HIV e a relação com determinantes sociais e a tendência temporal, fazendo uma análise espacial em Foz do Iguaçu. Encontrei alguns determinantes sociais que estariam influenciando estes óbitos ao longo de 12 anos, que foi o período que analisei. A importância deste tema é justificada pelo fato de que tanto para a tuberculose, quanto para a tuberculose associada ao HIV [TB-HIV], existe um peso muito grande em países da América do Sul, frente a quantidade de pessoas adoecidas em todo o continente americano. O Brasil se destaca com muitos casos, assim como muitos outros países da América Latina têm destaque relevante", explicou.

O fato de que pouco se escuta sobre tuberculose, nos garante a sensação de que a doença é coisa do passado. Entretanto, Marcos enfatiza que o Brasil, além de não conseguir eliminar a doença, é o país que mais tem casos de Tuberculose anualmente. Mas, se por um lado, ao longo dos últimos 12 anos, o Brasil vem conseguindo reduzir o número de óbitos, o estado do Paraná não tem tido sucesso neste objetivo. "Para TB-HIV houve declínio, mas a média do período não possibilitou concluir que, de fato, estamos diminuindo. Houve muita oscilação, embora que, ao final de todo o período, o grupo TB-HIV tenha terminado em baixa. Já o índice dos casos de óbito por tuberculose terminou em alta. Isso aponta um resultado preocupante, porque o ideal era que o índice estivesse diminuindo e não oscilando", explicou.

O professor da Unioeste explica que Foz do Iguaçu é uma cidade prioritária para o estado do Paraná, devido à relação da fronteira. "É o que a gente defendia e fomos mostrando. Existem indicadores de Foz do Iguaçu que correspondem ao dobro dos indicadores do estado. Boa parte das cidades do Paraná consegue atingir as metas, mas Foz não consegue. Isso é preocupante. Isso aconteceu na mortalidade do grupo de tuberculose. Já para TB-HIV, ficamos com o dobro da média nacional. Vale esclarecer que pesquisei mortalidade e não incidência. Um dos tópicos que discuti na conclusão do trabalho é que existem metas estipuladas pela Organização Mundial de Saúde e, pelos últimos anos de avaliação sobre tuberculose, o Brasil terá dificuldades para alcançar as metas propostas, assim como municípios que tinham historicamente essa dificuldade. Esta realidade implica Foz do Iguaçu. Precisamos identificar onde estão estas pessoas e trabalhar com políticas e estratégias específicas para estes grupos", comentou.

Em sua pesquisa, Marcos identificou relação entre infraestrutura e poder econômico com os casos de óbito por tuberculose e TB-HIV. "É uma doença que tem tratamento na rede pública. É um tratamento ambulatorial, que não é caro do ponto de vista financeiro e nem tecnológico. Embora já se faça teste rápido, justamente para ajudar no diagnóstico mais preciso, para identificar se a pessoa tem uma bactéria multirresistente. Neste caso, seria uma medicação diferenciada e um pouco mais onerosa, mesmo assim o SUS abarca. O que levantei como questionamento e defesa é que, morrer de tuberculose no cenário brasileiro significa uma injustiça. Já temos aparato para tratar e curar, então por que tem gente morrendo? Quais os determinantes sociais? Quais as questões de política pública que implicam isso?", problematizou.

Marcos conseguiu levantar alguns destes determinantes. Segundo ele, houve pouca diferença em relação ao grupo de tuberculosos e TB-HIV no que diz respeito à idade. Os tuberculosos eram mais velhos com uma idade média de 50 anos, enquanto que o outro grupo tinha idade média de 38 anos. Além disso, o pesquisador identificou que, embora a renda fosse um determinante, ela não se refere simplesmente à baixa renda. Marcos explica que famílias com rendas baixíssimas, consequentemente beneficiárias de programas como o Bolsa Família, apresentaram índices reduzidos, tal qual pessoas com rendas mais altas. "Tanto esta baixa renda, quanto a alta renda conferiam proteção ao óbito. Havia um peso significante dos programas de proteção social. Toda a literatura traz que a baixa renda é uma implicação importante pro prognóstico da tuberculose. Na nossa realidade encontramos que havia sim óbitos, mas a baixa taxa de óbitos tinha associação com regiões onde havia altas rendas, mas também onde havia baixíssimas rendas", explica.

Com relação ao TB-HIV isso mudou um pouco, já que em algumas regiões de alta renda ocorreram óbitos. "A maioria dos óbitos por TB-HIV ocorreu em regiões de renda média baixa, mas ocorreram algumas regiões de região com renda mais alta", disse. Segundo ele, os óbitos de TB-HIV estão mais relacionados com a questão de infraestrutura. Em regiões onde havia mais esgoto a céu aberto, as taxas de óbitos por TB-HIV eram maiores. "Outra questão que chamou muita atenção foi que, embora o maior grupo de óbitos fosse de população branca – porque a população de Foz é, em sua maioria, branca - estes óbitos ocorriam em setores onde a maioria era de cor de pele parda. Quando fazemos uma tendência temporal, em determinado momento os pardos passaram a morrer mais que os brancos. Quando discuto a relação de organização da cidade, como que estes grupos sociais de brancos e pardos foram se organizando e por que em determinados setores eu encontro estas diferenças? Como uma política de distribuição de renda favoreceu uma baixa taxa e como política de infraestrutura desfavorece este indicador?", disse.

Segundo Marcos, não existe relação direta com saneamento e óbito, mas existe a relação de que bairros onde existe falta de saneamento, existem outros problemas, como renda baixa e falta de serviços de saúde. "Isso indica que para atingir as metas, diminuir indicadores de mortalidade, são necessárias politicas públicas para melhoria de renda e políticas de infraestrutura. Além de políticas públicas de saúde que, embora já existam, precisam melhorar no sentido de perceber quais são os grupos que adoecem mais, os grupos que estão morrendo mais", ressaltou.